A pesquisa da SDA Bocconi abrangeu mais de 2,3 milhões de clientes da Revolut em 27 países europeus, apresentando três cenários alternativos para a implementação da moeda digital europeia: o modelo de euro digital proposto pelo BCE, o Dinheiro Digital e o Euro Token.
O estudo conclui que “o modelo atual do BCE pode ser aprimorado para se tornar mais relevante para os consumidores”, conforme constatado na análise sobre o euro digital realizada pela SDA Bocconi, em parceria com a Revolut, com uma amostra superior a 17 mil europeus.
A investigação indica que um euro digital que seja muito semelhante aos instrumentos monetários existentes corre o risco de tornar-se irrelevante.
Para ter um impacto significativo, o euro digital precisa ser mais simples e acessível, mais público (menos dependente de agentes privados) e mais integrado no ecossistema digital contemporâneo.
Os autores observam que “uma incógnita gira em torno do papel dos bancos, que, nos cenários alternativos ao euro digital, seriam reduzidos a fornecedores de serviços adicionais e premium relacionados à moeda digital.”
A equipe de pesquisa inclui Stefano Caselli, Giampaolo Gabbi, Leonardo Maria De Rossi, Nico Abbatemarco, Michele Russo e Simone Moretti.
O estudo investiga os desafios, expectativas e potenciais alternativas para a autonomia monetária da Europa na era digital.
De acordo com os resultados, os cidadãos preferem soluções que ofereçam simplicidade e integração com a infraestrutura existente. Os entrevistados demonstraram uma preferência pelo Dinheiro Digital e pelo Euro Token, que obtiveram maior consenso entre os cidadãos em todos os indicadores avaliados: utilidade, facilidade de uso, confiança e intenção de adoção.
Os dados levantados sugerem que o sucesso do euro digital não pode se basear apenas na robustez técnica, mas deve ser construído em torno do valor percebido pelos cidadãos.
A adoção do euro digital representa um desafio crítico para a autonomia monetária europeia. O plano atual, promovido pelo BCE em 2020, visa criar uma moeda digital pública que não desestabilize o sistema bancário, que não interfira no crédito privado e que seja compatível com o ecossistema existente. Nesse contexto, a utilidade, a confiança e a demanda dos cidadãos serão fatores centrais para o sucesso dessa solução.
Que modelo de euro digital pode realmente funcionar para os cidadãos europeus?
Esta é a questão central discutida em um evento realizado em setembro na SDA Bocconi School of Management. O ponto de partida é um estudo conduzido pela SDA Bocconi em colaboração com o banco digital Revolut, apresentado anteriormente ao BCE na primavera passada e agora disponível ao público.
O evento marca o início de um debate direto entre instituições italianas, bancos tradicionais e atuantes do setor de criptomoedas, com especial atenção ao papel das stablecoins privadas, para repensar de maneira sistemática o futuro do euro digital.
Neste contexto, a moeda digital única permitiria que os cidadãos tivessem acesso direto ao dinheiro emitido pelo banco central, mesmo em formato digital, através de infraestruturas confiáveis controladas por instituições públicas europeias.
O euro digital é, essencialmente, uma forma eletrônica de dinheiro, um meio de pagamento público, acessível a todos, seguro, gratuito e utilizável em toda a zona euro, tanto online quanto offline. Ele não substituirá as notas, mas servirá como complemento, visando preservar o papel da moeda emitida pelo banco central em um mundo que utiliza cada vez menos dinheiro em espécie.
A pesquisa da SDA Bocconi abrangeu mais de 2,3 milhões de clientes da Revolut em 27 países europeus, apresentando três cenários alternativos para a introdução da moeda digital europeia: o modelo de euro digital promovido pelo BCE, o Dinheiro Digital e o Euro Token.
O Dinheiro Digital é uma forma de dinheiro eletrônico emitido e gerido inteiramente pelo BCE, sem a participação de intermediários privados. O Euro Token, por sua vez, é um token digital baseado em uma blockchain pública, emitido pelo BCE e integrado de maneira nativa no ecossistema de criptomoedas e finanças descentralizadas (DeFi).
Durante o estudo, cada participante foi aleatoriamente associado a um dos cenários para medir suas reações de forma neutra. Foram feitas três perguntas principais: O modelo proposto pelo BCE é considerado útil e desejável pelos cidadãos europeus? Quais características técnicas e institucionais são realmente importantes para incentivar a adoção? Existem modelos alternativos mais alinhados com as necessidades dos usuários e com os princípios da União Europeia?
As 17 mil respostas válidas obtidas revelaram que os dois cenários alternativos ao modelo do BCE — Dinheiro Digital e Euro Token — foram os preferidos pelos cidadãos europeus em todos os indicadores avaliados: utilidade, facilidade de uso, confiança e intenção de adoção.
Embora a maioria dos participantes estivesse disposta a utilizar o euro digital, essa solução teve a maior taxa de rejeição entre as três alternativas, indicando que outras funcionalidades presentes no dinheiro digital e no token digital podem merecer exploração adicional.
O Euro Token foi a solução mais bem avaliada para usos não rotineiros (por exemplo, transferências entre pares ou integração com serviços de criptomoedas).
O Dinheiro Digital foi considerado a solução mais adequada para substituir o dinheiro físico, devido à sua simplicidade, gratuidade e supervisão pública.
Em todos os casos, os dois fatores mais relevantes para a adoção foram a utilidade e a compatibilidade com as práticas existentes.
Euro digital como teste à soberania monetária
O euro digital extrapola uma mera nova tecnologia; trata-se de um teste à soberania monetária europeia na era digital, num cenário em que os pagamentos digitais são cada vez mais dominados por players privados, frequentemente não europeus”, afirmou Stefano Caselli, Dean da SDA Bocconi School of Management.
“Nossa pesquisa mostra que o modelo atual do BCE pode ser aprimorado para se tornar mais relevante para os consumidores. O sucesso do euro digital não deve depender apenas da robustez técnica, mas precisa ser construído com base no valor percebido pelos cidadãos. Os resultados demonstram que é necessária uma abordagem diferente e mais ambiciosa, mais sintonizada com as necessidades das pessoas”, acrescentou.
“Temos orgulho em apoiar este projeto, oferecendo insights valiosos de nossa ampla base de clientes europeus”, observou Gianmaria Scocca, Head of Branches Europe & Board Member da Revolut Bank UAB.
A Revolut afirma que, “como banco europeu que opera nos 27 Estados-Membros, apoia ativamente as iniciativas da UE que promovem soluções de pagamento inovadoras e locais”.
“Para que este projeto seja bem-sucedido, é fundamental focar em aumentar a concorrência, reduzir custos para comerciantes e consumidores e fortalecer a autonomia estratégica da Europa no ecossistema de pagamentos”, defende o banco digital com sede na Lituânia.








