O desafio foi lançado aos partidos da oposição para que cheguem a um entendimento sobre o Sistema Nacional de Saúde (SNS) que desejamos, o que podemos alcançar e como devemos melhorar as relações com outros setores como parceiros em vez de concorrentes”, afirmou a ministra durante uma sessão na Assembleia da República, no âmbito do debate sobre o Orçamento de Estado para 2026.
Ana Paula Martins reconheceu que “vai demorar” a “devolver o SNS ao povo português”, especialmente sem ceder a interesses entrincheirados, modelos unidimensionais ou grupos específicos.
Ela enfatizou que esta tarefa é “uma maratona” e que reverter a decisão de acabar com as Parcerias Público-Privadas “foi uma escolha errada” que deve ser reconsiderada.
“Isso é uma maratona. Requer clareza no caminho a seguir, resiliência, persistência, coragem, o envolvimento de profissionais, atores políticos e, acima de tudo, dos cidadãos,” acrescentou.
Na quinta-feira, o Presidente da República propôs um acordo político sobre o papel do SNS, do setor social e do setor privado na saúde, com o objetivo de um quadro de médio prazo.
Durante uma intervenção no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, que marcou o término de uma conferência sobre o 50º aniversário do Serviço Médico Periférico (SMP), Marcelo Rebelo de Sousa criticou as constantes mudanças nas políticas de saúde a cada novo governo.
O chefe de Estado observou que o governo deve decidir primeiro se deseja chegar a um acordo ou não, afirmando que “mesmo sem um acordo, uma decisão deve ser tomada algum dia: o que deve ser o SNS, o que deve ser o setor social, o que deve ser o setor privado lucrativo – com flexibilidade suficiente para considerar interações.”
Nas suas considerações iniciais, antes de exortar os partidos da oposição a alcançar um consenso sobre o SNS, a ministra apontou que o orçamento para a saúde “não pode aumentar indefinidamente” e que os legisladores “devem ter a coragem de reconhecer isso.”
“Não basta batermos com o peito e afirmar que precisamos de mais financiamento,” sustentou, acrescentando, “A questão não é ter mais dinheiro, mas ter dinheiro para o que é necessário e criar um sistema de saúde mais justo e eficiente.”
Ela forneceu algumas estatísticas da atividade em saúde dos primeiros seis meses do ano, destacando 10,7 milhões de consultas hospitalares, 40.000 por dia, um aumento de 3,8% em relação ao mesmo período de 2024, 258.000 consultas de psicologia (um aumento de 11,6%) e um incremento de 4,6% nas cirurgias (2.000 por dia).
No que diz respeito às cirurgias oncológicas, relatou que o maior impacto se deu nas cirurgias oncológicas, com “cerca de 52.000 cirurgias em 2025.”
Ela destacou que os três institutos oncológicos (Porto, Lisboa e Coimbra) realizaram mais cirurgias em 2025 do que em 2024, e o tempo médio de espera diminuiu para quase todos os tipos de tumores, embora “a demanda seja significativamente maior em todos os três.”
Na área da obstetrícia, divulgou que entre 2022 e 2025, nasceram crianças fora do hospital (ambulância, via pública, Cuidados de Saúde Primários e em casa), totalizando 169, 173, 189 e 154, respetivamente. A maioria dos casos envolveu mulheres grávidas que nunca haviam recebido cuidados pré-natais, que não tinham médico de família, que tinham chegado recentemente a Portugal com gestações avançadas, que não podiam pagar cuidados privados, e algumas que não conseguiam sequer falar português.
“Elas não estavam preparadas para pedir ajuda. Às vezes, não têm nem um telemóvel,” apontou, mencionando o despacho do governo para garantir que enfermeiros de cuidados primários disponíveis, em coordenação com médicos de família e obstetras, possam atender e apoiar essas mulheres.
Relativamente ao Orçamento de Estado de 2026, ela reconheceu que a redução de 10,3% (886 milhões de euros a menos) em comparação a 2025 se baseia numa “visão de eficiência” e enfatizou: “Estamos cientes de que esta é uma mensagem muito exigente para os nossos gestores e profissionais.”
[Notícia atualizada às 16:37]








