Jovens recorrem cada vez mais à Linha SOS, duplicando os casos de pensamentos suicidas.

Jovens recorrem cada vez mais à Linha SOS, duplicando os casos de pensamentos suicidas.

“Temos mais jovens a entrar em contacto connosco”, afirmou Maria João Cosme, coordenadora adjunta da SOS Criança, um serviço que está a observar um aumento nos pedidos de ajuda relacionados com o bem-estar e a saúde mental.

No mês de janeiro, o serviço recebeu um total de 175 contactos, que duplicaram para 333 este mês, através de chamadas telefónicas, e-mails, chat ou mensagens de WhatsApp.

Enquanto as chamadas telefónicas e e-mails são geralmente utilizados por familiares e outros adultos para reportar riscos, o WhatsApp é a escolha preferida dos jovens, que se sentem mais confortáveis “a escrever do que a falar sobre os seus problemas”, explicou Maria João Cosme.

O aumento mais significativo é observado nos contactos via WhatsApp: nos primeiros dois meses deste ano, a linha recebeu uma média de 25 contactos, enquanto nos últimos dois meses superou sempre uma centena, de acordo com dados do IAC.

No que diz respeito às razões para contactar a Linha SOS Criança, o IAC destaca questões de ideação suicidal e comportamentos autolesivos, que aumentaram de 47 pedidos de ajuda no ano passado para 95 casos este ano, ainda com três meses por contabilizar.

Maria João Cosme acredita que o isolamento das crianças e o tempo excessivo em frente ao ecrã agravaram os problemas, mas também reconhece que o aumento dos casos registados pode estar relacionado com o lançamento da Linha SOS no WhatsApp.

<p“Com o WhatsApp, temos mais adolescentes a contactar-nos, e os temas estão mais relacionados com depressão, ideação suicidal e isolamento,” explicou.

Segundo Maria João Cosme, a violência e o maus tratos eram os temas mais discutidos até 2020, mas após a pandemia de COVID-19, “o tema começou a mudar mais para a saúde mental.”

No ano de 2020, a linha registou 2.268 contactos. No ano passado, foram 2.450, e este ano, já houve 2.522.

“Pode realmente haver um aumento dos casos porque a COVID teve um impacto negativo na saúde mental, mas também acredito que tem a ver com o dinamismo aumentado e a promoção dos nossos serviços,” afirmou.

Maria João Cosme enfatiza que não se pode fazer uma extrapolação direta entre o número de contactos e os casos em risco, uma vez que “os mesmos jovens podem estar a entrar em contacto”, com muitos casos envolvendo múltiplos contactos sobre o mesmo tema.

A psicóloga Tânia Gaspar também alertou este mês sobre o aumento dos comportamentos autolesivos, afetando um em cada quatro jovens em Portugal: “Crianças e jovens – e cada vez a idades mais precoces – começam a exibir comportamentos autolesivos, com ou sem intenção suicida, para lidar com o sofrimento psicológico.”

A investigadora explicou que “nem todas as crianças apresentam os mesmos sintomas.” Muitas tornam-se mais isoladas e tristes, enquanto outras mantêm uma vida social ativa, observou a coordenadora em Portugal do estudo Comportamentos de Saúde em Crianças em Idade Escolar, promovido pela Organização Mundial da Saúde.

Além disso, a psiquiatra infantil Neide Urbano alertou este mês para o aumento dos adolescentes a visitar os serviços de urgência devido a autolesões ou tentativas de suicídio, defendendo consultas de psiquiatria infantil de rotina para detetar sinais precoces de riscos à saúde mental.

A especialista da Clínica de Juventude, parte do serviço de psiquiatria infantil do Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, mencionou que os adolescentes, com uma média de 15 anos, acedem mais frequentemente ao serviço e aos cuidados de urgência hospitalar, principalmente por comportamentos autolesivos, sejam suicidas ou não suicidas.

Entre os comportamentos não suicidas, os cortes e outras formas de autolesão são os mais comuns, enquanto os comportamentos suicidas envolvem principalmente overdoses voluntárias de medicamentos.

Para o IAC, é urgente priorizar a saúde mental das crianças e jovens nas políticas públicas e contextos educativos, garantindo recursos capazes de identificar sinais de sofrimento e fornecer respostas.

A Linha SOS Criança e Jovem, disponível em 116 111, oferece apoio psicológico, social e jurídico a menores em situações vulneráveis.

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Se você estiver a sofrer de alguma doença mental, a sentir pensamentos autodestrutivos ou simplesmente precisar de alguém com quem falar, deve consultar um psiquiatra, psicólogo ou médico de família. Pode também contactar qualquer uma destas entidades (todos os contactos garantem anonimato, tanto para o chamador como para o respondente):

Apoio Psicossocial da Câmara Municipal de Lisboa
800 916 800 (24h/dia)

SOS Voz Amiga – Linha de apoio emocional e prevenção do suicídio
800 100 441 (entre as 15:30 e as 00:30, gratuito)
213 544 545912 802 669963 524 660 (entre as 16h e as 00h)

Conversa Amiga (entre as 15h e as 22h)
808 237 327 (entre as 15h e as 22h, gratuito) | 210 027 159

SOS Estudante – Linha de apoio emocional e prevenção do suicídio
239 484 020915246060969554545 (entre as 20h e a 1h)

Telefone da Esperança
222 080 707 (entre as 20h e as 23h)

Telefone da Amizade
228 323 535 | 222 080 707 (entre as 16h e as 23h)

Aconselhamento Psicológico no SNS 24 – No SNS24, o contacto é tratado por profissionais de saúde
808 24 24 24 depois selecionar a opção 4 (24h/dia)

Linha Nacional de Prevenção do Suicídio e Apoio Psicológico (24h/dia)
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