Isaltino Morais destaca-se como um notável fenómeno político na Área Metropolitana de Lisboa, superando a polarização dos votos e mobilizando os eleitores para garantir a sua continuidade na presidência.
O candidato independente de Oeiras triunfou com mais de 62% dos votos, consolidando sua posição e deixando a coligação PS–PAN com apenas 11%, o que representa uma diferença de 42,782 votos (16 mil a mais do que em 2021). O Chega, por sua vez, teve um desempenho ainda mais modesto, atingindo apenas 9%, longe da tendência de crescimento observada a nível nacional. Um verdadeiro fenómeno, portanto.
Fernando Caria, também independente, surpreendeu ao vencer o Montijo, tirando-o das mãos do PS e evitando que o Chega conquistasse a câmara. Com uma vitória surpreendente pela “Montijo com Visão e Coração” (MVC), ele obteve uma margem de cerca de 1000 votos.
O Chega apresentou-se como a grande incógnita destas eleições, uma vez que contava com um desempenho mais robusto na Margem Sul do Tejo e no distrito de Setúbal, onde havia vencido nas legislativas com 26,38% dos votos, contra 24,97% do PS. Se considerássemos os resultados das últimas legislativas de Maio como referência, o Chega seria o vencedor em Seixal, Moita, Montijo, Palmela, Sesimbra e Setúbal.
Apesar de não ter conquistado câmaras, o Chega entra com força, com vários vereadores que terão um papel importante nas decisões futuras.
O partido ficou em segundo lugar nas câmaras de Sesimbra, Seixal e Palmela. Em Alcochete, obteve a terceira posição, perdendo por apenas 2 votos para a coligação PSD-CDS.
No Montijo, no Seixal e no Barreiro, o Chega era a quarta força em 2021, e na Moita, a terceira.
Em Setúbal, o Chega tornou-se a terceira força política, marcando a queda da CDU, que anteriormente ocupava a câmara, passando agora para a quarta posição.
Nas legislativas no distrito de Lisboa, o partido conseguiu somente 14,53% dos votos, embora tenha vencido em Sintra, onde alcançou 26,07%, e em Vila Franca de Xira, situada na zona norte da cidade.
O PS estava focado na manutenção da maioria na AML, onde detinha 10 concelhos, e acabou por conquistar 8, mantendo a liderança, mas perdendo força com a perda de Sintra (e mantendo Lisboa fora do seu controle).
As mudanças na Área Metropolitana de Lisboa refletiram-se significativamente, com o PS a manter a sua liderança, mas com um peso reduzido, considerando a perda de Sintra e a derrota em Lisboa – ambas com um impacto político relevante. O PS não conseguiu recuperar os dois concelhos de Sesimbra e Seixal da CDU, mas liderou em Loures, Odivelas, Amadora, Vila Franca, Almada, Barreiro, Moita e Alcochete.
O PSD manteve Mafra e Cascais.
Na Margem Sul do Tejo, a CDU conservou o seu bastião autárquico, especialmente na linha sul da AML em Setúbal, Seixal e Sesimbra. Embora tenha perdido Setúbal para a antiga militante Maria de Lurdes Meira, conseguiu, por uma margem estreita, manter Seixal e Sesimbra, além de Palmela, com o regresso de Ana Teresa Vicente (que esteve no cargo entre 2001 e 2013, cumprindo três mandatos antes do presidente atual, também da CDU). A CDU ganhou por apenas 183 votos.
Em 2017, o PCP havia perdido Almada, Barreiro e Alcochete, que passaram para o PS, e agora mantiveram-se, com a Moita tornando-se socialista em 2021.
O PSD retém Cascais e Mafra, sem surpresas, e conquista Sintra, uma cidade de grande relevância. Mantém Lisboa, com uma vitória expressiva.
Concelho a concelho:
Sintra foi um dos concelhos mais disputados nestas eleições, com a saída do carismático Basílio Horta, que foi independente pelo PS. A ex-ministra socialista do Turismo e da Segurança Social, Ana Mendes Godinho, deixou rapidamente o cargo na Assembleia da República para concorrer nas eleições locais. Esteve competindo diretamente nas sondagens com o social-democrata Marco Almeida, que saiu vitorioso na sua terceira tentativa de ascender à câmara – após ter concorrido em 2013 como independente com apoio do PSD e em 2017 numa coligação PSD/CDS. Natural de Sintra, sempre destacou sua ligação à região – foi vereador da Câmara de Sintra em 2001 e exerceu funções como Vice-Presidente, cuidando de áreas como educação, saúde e habitação.
Rita Matias, uma figura proeminente do Chega, considerava este concelho crucial para estas eleições, mas terminou em terceiro lugar, como previam as sondagens.
A Amadora destacou-se devido à controvérsia em torno da candidata apoiada pelo PSD, a advogada e comentadora de tv Suzana Garcia, que adotou um discurso de segurança inspirado em valores da extrema-direita, prometendo um projeto de habitação de luxo na Cova da Moura.
Desde que Carla Tavares saiu para um cargo europeu, Vítor Ferreira tentou manter um perfil que se distancia do de sua antecessora, possivelmente contribuindo para a perda de três vereadores pelo PS, que agora possui quatro, enquanto o PSD ganhou mais um. O Chega também conquistou um vereador, tornando qualquer possível coligação negativa com o PSD (dadas as características da candidata) bastante complicada de ser gerida pelo executivo atual.
Em Loures, apesar de todas as controvérsias relacionadas com o Bairro do Talude, Ricardo Leão foi reeleito pelo PS, mesmo com críticas internas ao seu desempenho. Sua abordagem mais populista ajudou a conter o forte crescimento do Chega, que se manteve significativo no concelho, mas sem capacidade para vencer. Bruno Nunes, do Chega, que havia obtido 24,31% dos votos nas legislativas, agora ficou em segundo lugar, enquanto o PS ficou com 26,21% dos votos.
O PSD apresentou o candidato Nélson Batista, em coligação com o CDS, que já havia sido vereador no executivo de Ricardo Leão, responsável pelas áreas da Economia e Ambiente.
Em Cascais, o PSD manteve a câmara sem surpresas, com Nuno Piteira Lopes substituindo Carlos Carreiras. A candidatura independente de João Maria Jonet, que elegeu dois vereadores, foi uma surpresa, posicionando-se ligeiramente à frente do Chega, por 0,2%.
Em Setúbal, a campanha foi longa e a noite eleitoral ainda mais, com a ex-autarca Maria das Dores Meira a declarar vitória apenas tardiamente. Contudo, conseguiu a vitória, distanciando-se dos seus apoios tradicionais, da CDU (com a qual já exerceu na câmara) e sendo apoiada pelo PSD.
O socialista Fernando José (PS) esteve sempre próximo de Maria das Dores nas sondagens, terminando em um empate técnico, reivindicando ser o herdeiro do conhecido presidente socialista, Mata Cáceres.
Setúbal é a sede do distrito e está a passar por um acelerado processo de transformação. Sendo uma cidade industrial (com empresas como Navigator, Lisnave, Secil e Porto de Setúbal), a harmonia com a natureza tem se tornado cada vez mais importante devido ao turismo em crescimento, enfatizada pela Reserva Natural do Estuário do Sado e pelo Parque Natural da Arrábida. Essa questão foi uma das bandeiras de André Martins, o ecologista que liderou a câmara em coligação com o PCP, agora derrotado. A cidade terá novas oportunidades econômicas, especialmente após a sua desagregação da área de Lisboa, onde a renda per capita é consideravelmente mais elevada na Área Metropolitana de Lisboa (AML).
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